Exame de urina

 

Nominata: EQU (exame químico da urina), ECU (exame comum de urina), EAS (elementos anormais e sedimentoscopia), Urina tipo 1, Sumário de urina, Rotina de urina, Urina parcial.

Os resultados dos componentes do Exame de Urina para serem confiáveis e seguros para uso na assistência de saúde dos pacientes, devem ser realizados como descrito na norma técnica ABNT NBR 15.268/2005 – Laboratório Clínico Exame de Urina: Requisitos e recomendações para o exame de urina.

Informações técnicas:

O exame de urina é constituído de três partes: exame físico, químico e sedimento.

O exame físico compreende na determinação da densidade e pH e ainda observação da cor e aspecto da amostra. A observação da cor e aspecto agregam muito pouco a informação final e as vezes são dispensadas. A determinação da densidade e do pH é feita com tiras reagentes comerciais. A densidade pode também ser determinada por pelo índice refração com auxílio de um refratômetro.

O exame químico é realizado por tiras comerciais que pesquisam a presença de proteínas, sangue, nitritos, leucócitos, glicose, corpos cetônicos, bilirrubina, urobilinogênio. Algumas tiras indicam ainda a presença de ácido ascórbico. A leitura na tira reagente é semiquantitativa e pode ser feita por observação visual ou por equipamentos que leem as tiras por reflectância. O resultado é informado como positivo ou negativo e por cruzes avaliando a concentração de forma semiquantitativa.

O exame do sedimento pode ser realizado manualmente após centrifugação da urina e observação do sedimento por microscopia de campo claro, microscopia de contraste de fase ou microscopia com luz polarizada. Alguns elementos do sedimento urinário apresentam birrefringência, uma propriedade ótica de um material que possui diferentes índices de refração e são melhores observados na microscopia de contraste de fase. A análise do sedimento também pode ser realizadoacom urina não centrifugada em equipamentos com leitura automatizado por citometria de fluxo e fluorescência combinados com microscopia digital com contraste de fase. Na análise do sedimento urinário é pesquisado hemácias, leucócitos, células epiteliais do trato urinário e genital, cilindros, cristais, bactérias ou outros parasitas, e contaminantes ou artefatos.

Informações clínicas:

A presença de proteínas pode ser indicativa de doenças renal, por aumento da permeabilidade glomerular (glomerulonefrite, nefrite lúpica, nefropatia diabética e pré-eclampsia), alterações tubulares (pielonefrite, necrose tubular aguda, rim policístico, intoxicação por matais pesados) e proteinúria postural (febre, exercício físico intenso, exposição a frio ou calor intenso, estresse emocional e insuficiência cardíaca congestiva). O sangue positiva pela presença de hemoglobina na tira reagente e hemácias integras no sedimento urinário. A hemoglobinúria pode ser resultado de hemólise intravascular. A hematúria pode ser devido a sangramento de qualquer parte de sistema renal devido a doença renal, infecção, trauma, cálculo renal, uso de anticoagulante.  A presença de sangue deve ser correlacionada com a presença de hemácias no sedimento. O nitrito indica a presença de bactérias na urina devido a infecção urinária pela transformação de nitratos em nitritos por bactérias gram negativas. É útil na detecção de bacteriúria assintomática. A infecção pode estar presente devido a presença de cocus gram positivos sem a presença de nitritos positivo. A glicose é filtrada pelos glomérulos e totalmente reabsorvida nos túbulos renais e positiva quando atinge a capacidade máxima de reabsorção correspondendo a glicemia superior a 180 a 200 mg/dL. É observada na diabetes melitos. A presença de glicosúria na ausência de glicemia elevada pode ser vista devido a alteração na reabsorção tubular e encontrada no uso de corticóides, infecção grave, hipertireoidismo, último trimestre da gravidez, síndrome de Cushing, uso de alguns diuréticos, doença renal avançada, lesões do sistema nervoso e grande ingestão de carboidratos. Os corpos cetônicos (acetona, ácido acetoacético e ácido beta-hidróxibutílico) são produtos do metabolismo de lipídios e positivam quando usados como fonte de energia em pacientes diabéticos, etilismo, jejum prolongado, desidratação, diarreia, vômito e febre. A bilirrubina conjugada (direta e solúvel) derivada do metabolismo da hemoglobina destruída pelo baço, fígado e medula óssea é filtrada nos glomérulos e quando em excesso produz cor amarelo escuro a urina. É útil na investigação da doença hepática e causas de icterícia. O urobilinogênio derivado da bilirrubina não conjugada (indireta e ligado a albumina) é excretado pelas fezes, sendo que parte retorna pela circulação entero hepática e é eliminado pela urina. Quando há em excesso na produção de bilirrubina indireta, aumenta a eliminação na urina como encontrada em anemias hemolíticas e megaloblástica. A desidratação e febre pode aumentar a excreção urinária do urobilinogênio. A densidade (peso específico) avalia a quantidade de íons dissolvidos na urina. Oferece informação limitada sobre a capacidade de concentração renal porque sofre influência do estado de hidratação. Há perda da capacidade de concentrar a urina no diabetes melitos e insípidos e no hiperaldosteronismo. A determinação do pH urinário possui valor limitado na pesquisa da disfunção renal. A medida do pH ajuda na identificação de cristais associados a pH ácidos ou alcalinos. Urina ácida é vista em estado e inanição, diarreia grave, diabetes melitos e doença respiratória. O pH alcalino em urinas recentes pode ser indicativo de infecção urinária, mas quando muito alcalino e deixado a temperatura ambiente pode ser devido a amônia liberada por ação de bactérias. Urina alcalina é vista no excesso de álcali, vômito intenso, hiperventilação. A presença de leucócitos é detectada de modo indireto devido a esterase leucocitária encontrada em grânulos azurófilos de neutrófilos, monócitos, eosinófilos e basófilos. A reação é positiva para células intactas ou lisadas encontradas na urina na presença de infecção do trato urinário. Linfócitos e células epiteliais não possuem grânulos e não positivam a tira reagente.

Para a observação do sedimento urinário é usualmente é utilizada a microscopia de campo claro. A microscopia de contraste de fase permite avaliar melhor a superfície dos elementos com índice de refração próximo ao meio em que se encontram, como cilindros hialinos e céreos. E a microscopia com luz polarizada permite avaliar melhor o dismorfismo eritrocitário e visualizar melhor alguns cristais e corpúsculos lipídicos.

A análise microscópica é realizada em 10 mL de urina centrifugada por 5 minutos a 1.500 a 2.000 rpm, após o sobrenadante é retirado deixando no tubo 0,2 ml. O sedimento é homogeneização e 20 uL é transferido para lâmina e lamínula (22 x 22) para leitura dos elementos figurados. O resultado é expresso por campo após examinar 20 campos e calcular a média. A urina pode conter diferentes tipos de células, algumas delas derivadas do sangue (leucócitos e eritrócitos) e outras do epitélio de revestimento do sistema urinário (escamosas, transicionais e tubulares renais). A presença de elevado números de leucócitos na urina denomina-se piúra e está relacionada com infecção do trato urinário. A hematúria pode ser microscópica ou macroscópica e a indicação da morfologia é importante para informar a origem (eritrócitos normais sugerem hematúria extra renal e eritrócitos dismórficos sugere lesão glomerular). As células epiteliais escamosas encontradas na urina geralmente derivam das camadas superficiais do epitélio uretral ou vaginal. São grandes quadrangulares ou poligonais e frequentemente em grupos. As células epiteliais transicionais derivam do trato urinário desde os cálices renais até a bexiga, nas mulheres, e até a uretra proximal nos homens. São menores, ovoides ou redondas com borda citoplasmática fina e confundível com as tubulares renais. As células epiteliais tubulares renais são as únicas que tem significado clínico. Tem tamanho variado, o núcleo é redondo e de localização central ou excêntrica e em geral um pouco maior que os leucócitos. Também pode ser encontradas células neoplásicas oriundas de carcinoma queratinizantes com formato alongados e bizarros. As células decoy, são células tubulares renais ou do urotélio liberadas na urina, com inclusões nucleares virais que podem sinalizar uma possível nefropatia, é extremamente importante para um diagnóstico precoce.  Este tipo de célula é encontrado em amostras de pacientes transplantados renais, imunocomprometidos ou imunossuprimidos. Os cilindros são elementos alongados, de diâmetro e comprimento variável que se formam nos túbulos distais dos rins ou dutos coletores. A matriz dos cilindros é formada pela glicoproteína de Tamm-Horsfall que é sintetizada e secretada pelas células da alça ascendente de Henle. A formação dessa estrutura é favorecida por pH ácido intratubular, osmolaridade alta e concentração elevada de sódio ou pela interação com mioglobina, hemoglobina, cadeias leves de imunoglobulinas e outras substâncias. Os cilindros podem ser hialinos, transparentes se formados somente pela glicoproteína de Tamm-Horsfall, ou incorporar partículas no seu interior formando cilindros celulares (leucocitário, hemático ou epitelial), granulosos, gordurosos, bacteriano e céreos. Os cilindros hialinos são de pouca importância clínica e são melhor visualizados na microscopia de contraste de fase. Eles podem estar presentes em condições fisiológicas em urina de indivíduos normais, sem proteinúria significativa, após exercício extenuante, estados febris, em doenças não renais como desidratação, insuficiência cardíaca congestiva ou em pacientes utilizando diuréticos de alça. Os cilindros leucocitários contêm quantidades variáveis de leucócitos no interior, a maioria polimorfonucleares acompanhados do aumento no número de leucócitos no sedimento. São visualizados nas infecções renais e processos inflamatórios, como nas nefrites intersticiais e nas glomerulonefrites. Os cilindros eritrocitários podem ter coloração castanha ou ser quase incolores e os eritrócitos do sedimento geralmente estão associados à presença de dismorfismo eritrocitário. Os eritrócitos dentro dos cilindros muitas vezes são de difícil identificação e sempre são sinal de doença glomerular que se constitui em um marcador de hematúria glomerular. Os cilindros granulosos possuem a superfície coberta de grânulos finos ou grosseiros, claros, escuros ou pigmentados. Os grânulos são lisossomos contendo proteínas ultrafiltradas que nas células tubulares se prendem na matriz do cilindro em formação. Os cilindros granulosos também podem se formar a partir da degeneração de cilindros celulares. Apesar de indicar doença renal podem ser observados na urina de indivíduos normais após exercício vigoroso ou dieta rica em carboidratos. São encontrados nas glomerulonefrites e necrose tubular aguda e podem estar associados com cilindros epiteliais. Os cilindros gordurosos (graxos ou lipoides) apresentam no interior gotículas de gordura, corpos ovais gordurosos, cristais de colesterol ou outras partículas lipídicas. No microscópio com luz polarizada pode-se observar a formação característica da “Cruz de Malta”. É encontrado em pacientes com proteinúria em nível nefrítico ou sem proteinúria elevada.  Podem também ser observados na glomeruloesclerose diabética, na nefrose lipídica e nefroses toxicas, devido a etilenoglicol ou intoxicação por mercúrio. Os cilindros céreos tem alto índice de refração, aparência vítrea, cor escura, diâmetro largo e frequentemente bordas recortadas e rachadas. A origem e a composição dos cilindros céreos são desconhecidas e em geral estão associados à doença renal crônica e à amiloidose renal. A urina de indivíduos normais possui sais minerais, compostos orgânicos e medicamentos geralmente em concentração muito próxima ou acima da solubilidade. O equilíbrio entre diferentes componentes urinários leva frequentemente a formação de cristais. A urina pode ter cristais associada a algumas doenças metabólicas ou infecciosas. Pode também haver formação de cristais por alteração do pH urinário devido a decomposição bacteriana ou pela refrigeração após a coleta da urina (fosfato de cálcio e uratos, oxalato de cálcio e de acido úrico), indicando a importância de reforçar o cuidado pré-analítico entre o tempo da coleta e a realização do exame. Alguns cristais têm algum significado clínico e são considerados patológicos (bilirrubina, cistina, colesterol, fosfato-amoníaco-magnesiano, leucina e tirosina) porque a identificação pode contribuir para medidas terapêuticas. Os cristais podem ser classificados conforme o pH urinário como os encontrados na urina ácida ou na urina alcalina e ainda de origem metabólica ou iatrogênica. Os cristais de oxalato de cálcio, normais em urina ácida e podem ser observados como envelope octaédrico, incolores, e encontrados comumente na forma de cristais de oxalato de cálcio dihidratados. A forma monohidratada menos frequente é vista como estruturas ovalados ou em halteres. Ambas as formas são birrefringentes sob luz polarizada. Cristais de oxalato de cálcio podem ser observados em pacientes com litíase renal e hiperoxalúria primária ou secundária. Não exibem importância clínica e a ocorrência natural ocorre, principalmente depois da ingestão de alimentos ricos em oxalato, como tomate, laranja e alho. Esses cristais podem se apresentar em grandes quantidades no diabetes mellitos, doença renal crônica grave e doença hepática. Os cristais de ácido úrico, normais em urina ácida apresentam em uma grande variedade de tamanhos e formas (romboide, rosetas, agulhas, placas etc.). Geralmente, apresentam coloração amarela ou castanho-avermelhada que depende da espessura do cristal. Em luz polarizada apresentam forte birrefringência e frequentemente policromática. Não apresentam importância clínica, mas podem ser vistos na urina no elevado metabolismo de purinas, síndrome de Lesch-Nyhan, nefrite crônica, condições febris agudas, gota e em pacientes em quimioterapia. Os uratos amorfos são sais de ácido úrico (sódio, potássio, magnésio e cálcio) em forma amorfa, encontrados principalmente em urinas acidas concentradas que foram refrigeradas. Apresentam aspecto granular e coloração que varia de amarelo-a vermelhada para o âmbar. Os cristais de fosfato-amoníaco-magnesiano, fosfatos triplos ou de estruvita (em amimais) são normais e bastante comuns em urina alcalina e se apresentam na forma que lembra a tampa de caixão, mas podem assumir a forma de trapezoides, de prismas alongados, de pena ou outras. Sob luz polarizada, mostram birrefringência. São de importância clínica limitada e acredita-se que possam ser provenientes de infecções por bactérias produtoras de urease. Podem ser encontrados em pielonefrite crônica, cistite crônica, hiperplasia da próstata, e na retenção de urina na bexiga. Os cristais de fosfato amorfo são normais em urina alcalina e possuem aparência granulosa e amorfa. Podem ser incolores ou escuros e são constantemente encontrados na urina e não tem birrefringencia quando vistos com luz polarizada. A urina refrigerada com grande quantidade de fosfato pode causar a formação de precipitado branco morfologicamente idênticos aos uratos e podem ser diferenciados pelo pH e cor do sedimento. Os cristais de carbonato de cálcio são normais de urina alcalina. São pequenos, incolores e apresentam forma esférica ou em haltere. Esses cristais podem se acumular, o que os torna parecido com material amorfo, mas se colocado em meio ácido há liberação de CO2. Estes cristais não possuem importância clínica. Os cristais de biurato de amônio, apresentam a cor castanho-amarelado característica dos cristais de urato vistos na urina ácida. Apresentam formas esféricas com a presença de espiculas irregulares. Sob luz polarizada, o biurato de amônio apresenta uma forte birrefringência. Os cristais de ácido hipúrico aparecem como placas ou prismas alongados, incolores ou castanhos-amarelados assemelham a agulhas agrupadas. Os cristais de ácido hipúrico praticamente não tem relevância clínica e são raramente encontrados na urina. Quase sempre, esse tipo de cristal é observado em amostra de urina não recente e pode estar associado à presença da amônia produzida pelas bactérias produtoras de urease, as quais metabolizam a ureia, elevando a concentração de amônia na urina. Os cristais de fosfato de cálcio são observados em urinas alcalinas. como placas retangulares, incolores, prismas finos ou rosetas, que podem ser confundidos com cristais de sulfamida em pH neutro. Não possuem qualquer significado clínico, apesar de o fosfato de cálcio ser um constituinte comum de cálculos renais. Os cristais de origem metabólica como colesterol, bilirrubina, tirosina, leucina e cistina raramente são encontrados na urina, mas possuem significado clínico. Os cristais de colesterol são visualizados como placas retangulares, grandes, achatadas, transparentes com um canto chanfrado, com variedades de cores. Frequentemente são vistos junto com cilindros graxos e corpúsculos ovais gordurosos. São altamente birrefringentes com luz polarizada. Os cristais de colesterol indicam intensa ruptura tissular, nefrite, condições nefríticas, quiluria e síndrome nefrítica. Na doença hepática grave, três cristais podem ser encontrados na urina ácida (bilirrubina, tirosina e leucina). Os cristais de bilirrubina estão presentes na urina de pacientes com doença hepática e grande quantidade de bilirrubina na urina. Podem ser vistos como agulhas isoladas, agrupadas ou como esferas de coloração amarela ou marrom-avermelhada. No dano tubular renal, com hepatite viral, podem ser agregados à matriz proteica dos cilindros, fagocitados por neutrófilos ou dentro de células epiteliais tubulares renais. Tirosina e leucina são aminoácidos resultantes do catabolismo proteico e podem ser observados na forma de cristais em urinas de pacientes com lesão hepática grave ou necrose tecidual importante. Os cristais de tirosina são observados como finas agulhas refringentes, delgadas, agrupadas ou em feixes. Os agrupamentos frequentemente são vistos na coloração negra, principalmente no centro, mas podem exibir coloração amarela quando há presença de bilirrubina. Geralmente são observados em conjunto com cristais de leucina. Além de lesão hepática são encontrados também em doenças hereditárias do metabolismo de aminoácidos, principalmente a tirosinemia e síndrome de Smith e Strang (doença rara provocada por um defeito em um gene e que afeta principalmente a formação dos ossos e dos dentes). Os cristais de leucina são encontrados em urinas acidas e extremamente raros e associados aos cristais de tirosina.  Descritos como esferas de cor amarelo-castanha, com círculos concêntricos e estrias radiais, com alta birrefringência e aspecto oleoso. São associados a doença hepática grave e certas doenças hereditárias do metabolismo dos aminoácidos. Quando visualizados à luz polarizada, formam a denominada “pseudocruz de Malta”. Os cristais de leucina são encontrados na urina de pacientes com a Doença do Xarope de Bordo (defeito no metabolismo dos aminoácidos leucina, isoleucina e valina), na síndrome da má́ absorção de metionina e em doenças hepáticas graves. Cristais de cistina são incolores, com o formato de placas hexagonais, de espessura variável, e encontrados em urina com pH ácido. Algumas vezes, pode ser difícil a distinguir entre cristais de cistina, de ácido úrico e de pirimidina, por serem semelhantes. Os cristais de ácido úrico são muito birrefringentes à luz polarizada, os cristais de cistina são pouco refringentes e os cristais de primidona não são birrefringentes. São observados nas urinas de pacientes com cistinúria (distúrbio metabólico que impede a reabsorção de cistina pelos túbulos renais) que compromete o transporte transmembrana dos aminoácidos, da cistina, ornitina, lisina e arginina. Estes pacientes tendem a formar cálculos renais puros ou associados ao oxalato de cálcio ou ao ácido úrico em idade precoce. Os cristais iatrogênicos na urina são devido a administração de uma variedade de medicamentos em altas concentrações. Podem ser transitórios, isolados ou em conjunto com outras anormalidades como insuficiência renal aguda. A superdosagem do medicamento, desidratação, hipoalbuminemia (a fração do medicamento livre é ultrafiltrada pelo glomérulo), pH urinário baixo ou alto são fatores que geralmente favorecem a formação de cristais, podendo ser identificados, por suas características físico-químicas e histórico do paciente. Os cristais de medicações encontrados mais frequente na urina são: Primidona, barbitúrico, cristais hexagonais semelhantes a cistina, mas não são observados com luz polarizada. Sulfonamidas, conformações variadas, feixes, rosetas, pedra de amolar, amarelo castanho ou incolor. Aparece com falta de hidratação e causa dano tubular. Ampicilina, aparece em urina ácida, agulhas longas, incolores em feixes. Amoxilina, em forma de agulhas ou vassouras, fortemente birrefringente. Narfloxacino, aparece em urina alcalina, forma esférica, cor laranja esverdeado. Aciclovir, em forma de agulhas com extremidades afiadas, birrefringente, acompanhado de hematúria e leucocituria. Indinovir, placas achatadas, birrefringente, precipita em pH acima de 6.0, pode causar insuficiência renal aguda, e leucocitária. Trieantereno, diurético, cristais esféricos, marrons, causa dano tubular, pode aparecer cilindros marrons e na luz polarizada mostra Cruz e Malta. Piridoxilato, usado na doença coronariana, hexanos assimétricos. Felbamato, antiepilético, agulhas achatadas ou em grupos. Contraste radiológico, bastante comum de ser encontrado, semelhante ao colesterol, altamente birrefringente e urina com densidade muito alta. Diversos tipos de organismos podem ser identificados no sedimento urinário como bactérias, fungos, parasitas e muco como possíveis elementos encontrados na urina. A urina é estéril e normalmente não possui bactérias. A contaminação pode acontecer devido à presença de bactérias na uretra, na vagina, na genitália externa ou no frasco utilizado na coleta. Se o tempo entre a coleta e o exame for excessivo, poderá́ ocorrer o crescimento de microrganismos que serão visualizados e podendo induzir, erroneamente, ao diagnostico de infecção urinaria. Em uma amostra coletada adequadamente, a presença de bactérias acompanhada por piocitos é indicativa de infecção do trato urinário. O envolvimento renal, pode ser observado pela presença de cilindros leucocitários e que podem conter bactérias. Além de leucócitos o sedimento pode também apresentar hemácias em número elevado e proteinúria. Utilizando filtro de contraste de fase, as bactérias aparecem como partículas de cor cinza-escura ou preta e os bacilos podem estar isolados, em pares ou em longas correntes. Enterobacteriaceae (bacilos gram-negativos), Staphylococcus e Enterococcus, são bactérias associadas às infecções do trato urinário. Em mulheres, bactérias e leucócitos na urina podem ser resultados de contaminação com secreções vaginais, como consequência de vaginite. As células de levedura são incolores, lisas, e habitualmente ovoides, com paredes duplamente refringentes. Elas podem alterar em tamanho e geralmente possuem brotamentos ou micélios. Leveduras podem ser detectadas nas infecções do trato urinário em pacientes com diabetes mellitus, e também podem estar presentes na urina resultantes de contaminação de origem cutânea ou vaginal. A Candida albicans é a levedura mais encontrada na urina. Aparece como células verde-pálidas, com forma ovoide, esférica ou alongada, paredes lisas e bem definidas, frequentemente nucleada e apresentando brotamentos. Pode aparecer eritrócitos ou alguns tipos de cristais de oxalato de cálcio monoidratado. Se observação for retardada abundantes pseudomicélios (cadeias alongadas ou agrupamentos) podem ser observados. Os espermatozoides são simplesmente identificados no sedimento urinário pelo seu formato oval, cabeça ligeiramente cônica com um flagelo. São eventualmente encontrados na urina de homens após masturbação ou ejaculação noturna e em mulheres após relação sexual. Esporadicamente são de relevância clínica, salvo nos casos de infertilidade. Eventualmente alguns parasitas podem ser encontrados na amostra de urina enviada ao laboratório como Trichomonas vaginalis, Enterobius vermicularis. A Trichomonas vaginalis é um protozoário flagelado, com formato ovoide a arredondado. Sua característica morfologica é a presença de cinco flagelos, um deles é dobrado para trás e está ligado ao corpo por uma membrana ondulante.  Podem ser observados vivos no sedimento e facilmente identificados pela motilidade dos flagelos e seus rápidos e irregulares movimentos. Quando mortos, porém, são difíceis de distinguir de leucócitos polimorfonucleares. O achado na urina geralmente indica contaminação por secreções genitais, sendo este protozoário uma frequente causa de vaginites e uretrites. O Enterobius vermicularis é ocasionalmente encontrado em urinas de crianças, como um contaminante do ânus, da genitália ou da uretra. Os ovos medem de 25 a 50 mcm, tem um lado achatado e outro arredondado e apresentam uma membrana dupla. Os mucos são filamentos delgados, longos e ondulantes de estruturas parecidas com fitas, que apresentam estrias longitudinais discretas. Possuem. baixo índice de refração sendo visto com maior facilidade usando microscopia de contraste de fase. É derivado da secreção de glândulas acessórias (glândula de Cowper ou de Littré nos homens; duto de Skene nas mulheres). É achado frequente no sedimento urinário e tem sido visto, mais frequentemente, na urina das mulheres. As vezes, os filamentos de muco podendo ser confundidos com cilindros hialinos (pseudocilindros). Esses filamentos estão presentes em baixas quantidades na urina normal, mas podem estar em altas quantidades quando há irritação do trato urinário ou inflamação. Técnicas de coloração são utilizadas no auxílio de visualização de vários elementos da urina difíceis da visualização em microscopia de campo claro.. A coloração de Sternheimer- Malbin (cristal violeta e aafranina) são bastante úteis para identificar células e cilindros. Sudan III utilizado para identificar gorduras neutras e triglicerídeos. A análise manual e visualização por técnicos pode introduzir diversos erros na leitura da tira reagente. Existem aparelhos semi-automáticos ou automáticos para a leitura e tempo de reação leitura indicada pelo fornecedor que são espectrofotômetros por reflectância que medem aluz refletida em diversos comprimentos de onda. Estes aparelhos eliminam a variação da leitura visual, a interpretação à tonalidades de reação e o tempo de leitura que são as causas de erro na leitura. A atual automação trabalha com amostras não centrifugadas, dispensando o preparo prévio deste material, e utilizam citometria de fluxo, análise digital de imagens ou microscopia automatizada com imagem digitalizada para classificar e quantificar os diversos elementos presentes no sedimento urinários (hemácias, leucócitos, cilindros, cristais, muco, células epiteliais, leveduras e bactérias). Os citômetros de fluxo tem funcionamento semelhante ao dos analisadores hematológicos, e a classificação dos diversos elementos baseia-se em impedância (volume do elemento), dispersão de luz (tamanho) e características tintoriais nucleares e citoplasmáticas (fluorescência). É importante ressaltar que a utilização de equipamentos automatizados para a análise do sedimento urinário não elimina a necessidade da microscopia manual, mas reduz significativamente seu uso. No caso dos citômetros de fluxo, qualquer tipo de alteração detectada ou alerta sinalizado pelo equipamento indica a necessidade de confirmação por meio de microscopia ótica. Equipamentos baseados em imagem permitem revisão na tela do equipamento ou de um computador a ele acoplado, reduzindo, assim, a necessidade de análise microscópica manual das amostras alteradas.